segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Orestes Quércia :Os primeiros 22 anos

18 de agosto de 1938

Em Igaçaba, distrito de Pedregulho, interior de São Paulo, a quase 500 quilômetros da capital, nasceu o menino Orestes, o segundo de três na casa dos Quercia, "seu" Octávio e dona Isaura. Os pais, filhos de imigrantes italianos, levavam uma vida normal na pequena cidade. Uma vida típica da chamada classe média, habitante do interior. Viviam em uma casa confortável, com quintal, carro na garagem, bons amigos e muita disposição. Seu Octávio sempre foi inquieto; era um lutador, um empreendedor. Meteu-se em diferentes negócios, de venda à selaria, passando por uma máquina de beneficiar arroz. Sempre foi proprietário de terra com a determinação de fazê-la produzir. Café era seu forte. Orestes nasceu em uma região cafeeira do Estado que, no passado, atraiu os recém-chegados imigrantes italianos carregados de sonhos e determinados a "fazer a América". Pacata, a vila cheirava a trabalho e a café torrado.

Orestes passou 10 anos em Igaçaba. Seu pai era dono da venda, um estabelecimento central na vida da cidade, ponto de referência, uma mistura de bar, supermercado, quitanda, farmácia e loja de conveniências. Era o lugar em que se passava antes de ir para casa, onde se sabiam as novidades, se falava de política e onde sempre aparecia no fim da tarde, depois do serviço, um gaiato com seu violão a cantar modas. Orestes, aos 8 anos, ajudava seu pai na conferência do peso da sacaria e nas contas da venda.

A família mudou-se para Pedregulho, onde viveu durante seis anos. Seu Octávio foi subprefeito nomeado em Igaçaba, seu primeiro e único cargo público, mas militava na política local, ajudando a filiar eleitores para o PSP — Partido Social Progressista, de Adhemar de Barros. Nestas ocasiões, sempre levava o filho Orestes, com 14 anos. Também foi sócio do jornal "A Comarca", e sua mulher lia as notícias em voz alta e as comentava com os filhos. A família se interessava pela política.

Orestes ajudava a servir os fregueses no balcão do armazém e a tratar o couro dos arreios na selaria do seu octávio. Como já reunia certa experiência comercial, resolveu dar seu primeiro passo. Com um amigo, Tiguê, comprava bicicletas velhas, pintava, consertava as catracas e as vendia. Também vendia doces na plataforma do trem e, na época da colheita, comprava tomate do produtor, no atacado, e revendia no varejo, de casa em casa. Menino ativo, Orestes não parava quieto. Teve muitos cachorros, quase todos por nome Tarzan ( ou fêmeas chamadas Diana ou Içana) e adorava moda de viola. Suas lembranças de menino são recheadas de nomes de gente que conheceu, com suas histórias, cada um com seu jeito, cada um com suas lições.

Em 1955, com 17 anos, muda-se com a família para Campinas. Aos 18 anos, Orestes faz seus primeiros negócios como corretor de imóveis e presta o serviço militar no NPOR — Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva. Com 19 anos e a companhia do irmão mais velho, Vicente, abre dois armazéns, os "Irmãos Quercia". Dona Isaura, sua mãe, vítima de um problema cardíaco, levou a família a se mudar. Sua doença devastou as economias dos Quercia. Ela morreu cedo. Orestes tinha 22 anos. E foi, naturalmente, uma perda irreparável.

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